terça-feira, 27 de julho de 2010

Nova filial do Pompidou


A criatividade humana logo buscou definições para o mais novo prédio de Metz. Chapéu chinês, casa de Smurfs, lanterna mágica. Ou ainda cogumelo, arraia gigante, tapete voador. Se quiser ouvir outras tantas, basta perguntar a alguém no mercado ou numa rua como a Serpenoise, sempre agitada por causa de sua longa fileira de lojas.

A filial do parisiense Centre Georges Pompidou (nuvem, concha, onda...) aterrissou em meio a uma região vazia da capital de Lorraine, no nordeste francês. E veio com a disposição de transformar Metz num ponto de convergência artística. Representatividade que a vizinha Nancy teve a partir do fim do século 19, por ser uma das expoentes do estilo art nouveau (leia mais ao lado).

Em volta do magnífico museu, inaugurado em maio, está surgindo um bairro inteiro, desde já chamado de Amphithéâtre, com opções culturais, gastronômicas e de consumo. E, espera-se, toda uma gama de serviços para receber os visitantes ? por enquanto, há um único quatro-estrelas disponível, o bem localizado La Citadelle, no centro. Paris fica a parcos 90 minutos dali, graças ao trem de alta velocidade. Alemanha, Bélgica e Luxemburgo também ficam próximos.

Se o exterior do prédio idealizado pelos arquitetos Shigeru Ban e Jean de Gastines possibilita tantas interpretações (óvni, célula, colmeia...), o interior encanta pela amplitude, pelas galerias panorâmicas e pela distribuição da luz. A gigantesca manta ecológica que faz as vezes de teto garante luminosidade suave de dia e, à noite, com a ajuda de muitas lâmpadas, vira uma incrível malha tridimensional.

A manta é sustentada por pequenas vigas de madeira cortadas uma a uma e encaixadas com precisão. Quem está no vão central do museu e olha para cima vê infinitos losangos (ou seriam estrelas de Davi?), formando uma composição por si só artística e merecedora de atenção, independentemente das obras que estiverem sendo expostas no momento de sua visita.

Não que se possa questionar a qualidade do que está nas paredes e nos corredores. Para montar cada mostra, peças são escolhidas entre o vasto acervo do Pompidou de Paris ? Metz não terá coleção permanente, apenas exposições temporárias. Por que, então, se deslocar da capital? O museu espera resolver essa questão incentivando o debate sobre a arte. Em vez de tão somente agrupar Picassos, investirá em mostras como a inaugural Chefs-d''oeuvre?, que discute o conceito de obra-prima e segue até outubro.

Efeito Bilbao

Em meio a tantas descrições, no entanto, uma comparação inevitável. É impossível olhar para Metz e seu Georges Pompidou sem pensar num certo efeito Bilbao, a espanhola que redefiniu seu espaço no mapa turístico após a abertura de uma unidade do nova-iorquino Guggenheim, em 1997. Antes do museu, pouco se falava da cidade ? a não ser para comentar um ou outro ato tresloucado do grupo separatista ETA. Depois do Gugg, e com a renovação ali iniciada, tornou-se impossível ir ao norte da Espanha e não parar em Bilbao.

O custo para construir os museus foi equivalente, segundo o presidente do Georges Pompidou Paris, Alain Seban: US$ 96 milhões. E Metz espera que o resultado, também.

Pouco conhecida até pelos franceses, a cidade de invernos rigorosos, anexada pela Alemanha entre 1870 e 1918, quer poder mostrar a mais gente suas belas construções às margens dos Rios Moselle e Seille, além da Catedral de Saint Étienne, gótica do século 13, e a antiga capela dos templários. O projeto de renascimento ainda está em curso. Mas, por enquanto, já se vê uma tentativa de abraçar pelo menos esteticamente o Pompidou, mesclando novidades contemporâneas com os prédios seculares.

A fonte da Esplanada ganhou duas esculturas que lembram asas coloridas e a praça principal, carneirinhos metálicos. A catedral também exibe obras modernas, como em pequenas exposições temporárias. Metz quer se tornar um grande museu a ser visitado por inteiro.


originalmente publicado em: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,toque-de-pompidou,586560,0.htm

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